Laboratório de Marko Volkage

A mercenária começara a sentir falta da neblina de poluição ao dissecar o submundo de Zaun, onde o cheiro de outrora mais assemelhava-se a um perfume nobre quando comparado ao odor putrefato daquela camada da cidade. Em vez de deixar Caim em suas costas, ela a tomara em mãos, intimidadora a quem ameaçasse se aproximar.

Quando Niels citara sobre o laboratório, Ayasha deveria confessar que não era aquilo que tinha em mente. Imaginara ruas bem iluminadas com o mínimo de decência, e não um esgoto a céu aberto, pois era essa a impressão que tinha conforme os passos a levaram mais para baixo. De frente para a porta, ela dera uma última boa averiguada nos arredores antes de adentrar aquele espaço, no mínimo, peculiar.

Após adentrar o espaço com toda sua sutileza característica, Ayasha cessara seus passos ainda na porta, fechando-a silenciosamente. O odor que manchava o laboratório era ainda pior do que aquele encontrado nas ruas, provavelmente alguém de estômago fraco não suportaria ficar naquele ambiente por mais que alguns segundos. Ela se abaixara rente ao sangue, contudo não o tocara, apenas fizera uma avaliação visual para certificar-se se estava fresco e com isso preparar-se para eventuais companhias. Com a constatação, sua atenção fora redobrada.

A mulher observara cada centímetro daquele cômodo mal iluminado em busca de pistas, armadilhas ou qualquer objeto que pudesse tanto revelá-la quanto possíveis outras pessoas. Seu caminhar era lento e articulado tal qual um felino a esgueirar-se em uma viela escura, as mãos cobertas pelas luvas pegaram os papéis em busca de mais informações ao realizar uma leitura silenciosa, no entanto, não estava imersa completamente naquelas anotações o suficiente para que fosse pega de surpresa.

As vibrações dos passos refletiram no sangue que se movia e alertaram a mulher sobre não estar sozinha. Portanto, ela se esgueirara até a parede adjacente com extremo cuidado já que suas botas aderiram um pouco ao líquido viscoso, de modo que ao passarem pela porta ou caso surgissem em outro ponto ela pudesse avistar com facilidade sem que fosse a primeira a ser notada. O som era estranho, não conseguia ter certeza se estavam caminhando ou rastejando e isso a fizera arquear a sobrancelha. Encontraria um monstro? A arma ficara posicionada em frente ao corpo, escondida naquele ponto à espera de quem quer que fosse.

O novo passo que havia dado a fizera se desequilibrar, no entanto isso foi apenas impressão, já que as paredes pareciam ter vida própria quando a absorveram feito areia movediça. Ayasha firmara os pés durante a queda, apoiando-se também em uma das mãos para evitar danos, e logo quando as orbes claras se fizeram visíveis, prontamente guiara a mira naquela direção.

O comentário levara a mulher a rir baixo, quase inaudível conforme todos seus sentidos mantiveram-se em alerta. ────── Você terá que ser mais específica. Eu já matei muita gente, então, de quem estamos falando? De preferência, use características físicas, não sou apegada a nomes. ────── O sorriso sorrateiro finalizara a frase, mas sabendo que o laboratório mais se assemelhava a um organismo, não abaixaria a guarda.

Quando a figura feminina abandonara as sombras, os âmbares de Ayasha a analisaram com a mesma sutileza de uma fera frente a um prato suculento, mas mantivera o resto de sua compostura para ouvi-la. A assassina suspirara um tanto impaciente, não havia motivo para abandonar o sarcasmo já que em meio às falas irônicas, ela estivesse dizendo a verdade. ────── Eu não menti, realmente não sei quem é o dono desse laboratório. ────── A voz soara mais séria, talvez assim ela enxergasse veracidade em suas palavras.

Mesmo durante o diálogo, a antiga shurimane não titubeara, mantendo a mira na direção da mulher de cabelos coloridos. ────── Eu tenho algo a fazer aqui, posso terminar sem precisarmos nos enfrentar. Eu já respondi o que você queria saber, então, qual sua escolha? ────── Ainda que conversasse com ela, sua atenção também era voltada aquele sorriso macabro escondido no escuro. Não fora capaz de decifrar do que se tratava, e tudo se tornava ainda mais estranho.

────── Está tentando me seduzir chegando tão perto e estalando o chicote? Veja bem, não sou masoquista. Mas posso te machucar se você gostar disso.

Já que de início ela poderia ser uma morte desnecessária, por quê não se divertir um pouco? Mesmo que a mulher não parecesse tão bem humorada. ────── Hm? Eu não disse que você não deveria me matar, eu disse que não fui eu que matei o dono do laboratório. Posso só pegar o que quero e sair sem mais problemas. Aliás, a criatura de olhos cor de rosa que estava atrás de você, quem era? ────── Perguntara com genuína curiosidade agora que a outra sumira de vez e não retornara até então. Os passos seguiram para o lado até que se aproximasse do caderno, ainda sem deixar de mirá-la ao pousar um dos pés no objeto.